20 de abril de 2012

Batendo Cabeça com Mick - Rio sem Rock.


Atenção fulanos e fulanas,
Leiam o seguinte aviso antes de começar a leitura.
Ao pensar na coluna desta semana, decidi escrever sobre algo que tenha haver com o atual cenário musical carioca. Tentei deixar de lado minha preferência por Rock para escrever algo que abrangesse a musica como um todo, mas não foi possível e como o título já entrega falarei sobre a cena roqueira. O texto que se segue é um dossiê com um caráter investigativo que tenta entender porque há poucas opções de shows para os fãs da música pesada que morem no Rio de Janeiro. Se você não gosta de Rock, ou não tem interesse nesse tipo de assunto, esse texto não lhe fará nenhum sentido, mas se você é fã de bandas de Rock ‘n’ Roll ou qualquer coisa que se encaixe neste termo, siga lendo.

      No dia 08 de abril de 2009 assisti a um dos maiores shows de Rock da minha vida, a apresentação do Kiss na Apoteose. Já se passaram três anos desde aquele dia inesquecível e meu desejo para repetir a dose é enorme, mas sinceramente não tenho certeza alguma se isso acontecerá novamente. Não aqui no Rio de Janeiro. Em São Paulo é muito mais provável. Porto Alegre também tem boas chances de ganhar um show do Kiss, assim como Belo Horizonte e até São Luiz do Maranhão (que inclusive ganhou o Metal Open Air 2012, o maior festival da música pesada da América Latina!). Imagino até o Kiss anunciando uma turnê pelo Brasil com shows em João Pessoa, Fortaleza e em Aracaju, mas não creio numa apresentação aqui, na famosa cidade maravilhosa, fonte de riquezas naturais e ponto principal para turistas de todo o Mundo. Mas o que me faz pensar assim? Por que tenho essa certeza negativa sobre a possibilidade do Rio não fazer mais parte das rotas das bandas de Rock, não só o Kiss, mais também de outros conjuntos como Scorpions e Metallica, além de centenas de grupos não tão grandes?


         Existe uma série de fatores que foram se acumulando com o tempo e acabaram criando uma barreira que separa o Rio de outras cidades do Brasil quando se trata de eventos expansivos. Devido a sua grandeza, beleza e o clima sempre agradável, a cidade maravilhosa facilmente se tornou um terreno fértil para plantar idéias e colher dinheiro. Muito dinheiro. Até o inicio dos anos 90 tínhamos grandes festivais musicais, como o Rock in Rio e o Hollywood Rock, rolou o Eco Rio 92 (uma primeira versão do Rio+20 desse ano), e ainda rolava a fórmula 1 em Jacarepaguá. Mas a obsessão e ganância dos grandes empresários, e a monopolização das empresas que financiavam a realização dos eventos, acabou tirando essa oportunidade do público carioca. As diárias nos hotéis foram subindo absurdamente, além de todas as outras despesas como transportes, refeições e até as farras. E assim foi sendo até o Rio ficar praticamente esquecido, período que vai desde o fim dos anos 90 até a metade da década seguinte. Exceto pelo Rock in Rio de 2001, praticamente nada de bom para a turma roqueira foi feito, a não serem os inúmeros festivais de bandinhas covers e afins, que ainda traziam alguma diversão em pontos como o finado Garage, no centro da cidade.


           Nos últimos sete anos vem ocorrendo uma espécie de redenção e voltamos a ter algumas bandas do grande escalão passando por aqui, como o Pearl Jam,Ozzy, Scorpions, Bon Jovi, o já citado Kiss, o sempre presente Iron Maiden, Guns ‘n’ Roses e também o The Police. E não podemos esquecer os mega-shows: Rolling Stones, em Copacabana de graça para mais de 2 milhões de pessoas, e Paul McCarteny, seguido de Roger Waters, no engenhão. O querido Rock in Rio também retornou a cidade após 10 anos, mas o cast formado em sua maioria por artistas Pop levou a muitos questionamentos por parte da galera que gosta de Rock de verdade, e conheço muitas pessoas que não sentiram a mínima vontade de ir (também faço parte dessa turma). Mesmo assim, ainda foi pouco, principalmente se considerarmos o que tem rolado no resto do país. Um exemplo foi a aguardadíssima apresentação do AC/DC em 2009, que só ficou por São Paulo, e aí você pode enumerar muitas outras bandas de menor porte que só tem tocado em Sampa, deixando os fãs que moram no Rio sem a chance de vê-los ao vivo, a não ser que você procure alguma excursão ou viaje por conta própria até o local do show, gastando mais com passagens, comida até com hospedagens.


            Mas essa história não para por aí porque ainda temos um problema enorme, que não existe em outros lugares. Se você pensou: ‘o cara tá chorando de barriga cheia, olha quantos shows rolaram. Ozzy, Iron Maiden, Peral Jam, Rock in Rio...’


           Não se engane, não foi barato assistir nossos ídolos ao vivo. Na verdade foi bem mais caro do que deveríamos pagar, e isso foi comprovado pelo jornal O Globo, numa interessante reportagem realizada na ultima semana. Os ingressos no Rio de Janeiro são os mais caros do mundo! Não só do Brasil, mas de toda a raça humana. Esse é o preço que temos que pagar por viver numa das cidades consideradas as mais belas do Planeta. Todos os serviços que antecedem a subida de um musico ao palco são caros e para haver sobras para pagar os envolvidos, nosso bolso é o alvo principal. Para se ter uma ideia desse absurdo, quem foi ao concerto do Bob Dylan aqui no Rio, no ultimo dia 15, teve que pagar R$ 500,00 pelo ingresso mais barato, enquanto o mesmo show saiu por R$150,00 em São Paulo! Foi mais econômico ir de ônibus para Sampa e ter assistido ao show lá, do que ter assistido perto da sua casa. E essa comparação só piora quando fazemos um paralelo de nível mundial. Para ver o Bob em Berlin você pagaria R$ 134,00, e em Bueno Aires o valor seria de R$ 83,00. Não ache que a culpa é de Dylan porque a diferença também aparece em todas as próximas atrações que acontecerão no Rio, como o Roxette, que toca aqui no Citibank Hall por R$150,00, e depois em São Paulo por R$ 70,00, além de nomes como o Duran Duran.


            Os especialistas tentam entender o motivo desse abismo, que deixa o valor no Rio tão caro e inacreditável. Agora vão alguns motivos que podem explicar o alto valor de um ingresso carioca:





1). Na mesma reportagem do O Globo, há explicações que citam nossa cidade como um lugar que tem um mercado menor em menos instável. Assim, há poucos investimentos por parte de empresários que temem algum fracasso de bilheteria. Devido a esse medo de trazer uma banda e fracassar na renda, se eleva o preço do ingresso. Assim, se não houver lotação, haverá uma boa renda. 

2) O amplo uso da meia-entrada também é um problema. Aqui a meia equivale a 75% do público, enquanto São Paulo tem no máximo 30% de pessoas pagando meia. Quando os produtores fazem a soma dos custos para chegar ao valor que deverá ser cobrado, eles já sabem que grande parte do público pagará meia-entrada através de carteiras de estudantes, promoções e até impressões de flyers, que tem se tornado comum. Ao chegar ao resultado das somas, basta colocar o dobro desses números. É algo tipo assim: colocando o valor de R$ 80,00, já haverá renda para pagar todos os serviços e cachês, mas como 75% do publico pagará meia, teremos prejuízo, então o valor será R$160,00. Assim, a maioria das pessoas só estará pagando o valor real mesmo, de R$ 80,00.


3) Por últimos,voltamos a já citada alta taxa de serviços do Rio de Janeiro, que tem hotéis com diárias caríssimas e serviços de transporte e som com preços abusivos. E com o crescimento do Estado, que ganhou maior visibilidade internacional com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, essas taxas só tendem a aumentar.